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A Lígia e a Quarentena

E ao dia 63, ela começou a escrever. Ao dia 85 acabou este artigo.

Tenho andado adormecida aqui pelo blog e a desculpa do “não tenho tido tempo” já não cola. A realidade é que me desmotivei de escrever, por variadas razões.


Em primeiro lugar, por real falta de tempo nos anos anteriores. Trabalhava muito e voltei a estudar, pelo que de facto, por muito que quisesse, nas minhas horas livres, sentar-me ao computador, estava completamente fora de questão. Nestes últimos seis meses, tive de escrever uma tese quase com 100 páginas. Não sei se já escreveram uma tese, mas é desesperante. É escrever, reescrever, reformular, apagar…é colapsar mentalmente.


Em segundo lugar, o facto das redes sociais se terem tornado cada vez mais visuais – o vídeo e a foto ocupou um lugar de destaque no consumo da generalidade das pessoas. Postar uma foto no instagram é directo e simples. Tenho um grupo de pessoas que realmente lê o texto que acompanha a fotografia, mas a maior parte das pessoas, já não tem esse hábito. Talvez porque o nosso cérebro está cansado e precisa de desligar. Digo eu. Confesso que acompanhei esta tendência – tenho consumido poucos blogs e muito mais Instagram e TikTok. E o meu amor pelo TikTok é bem pré-quarentena. Repararam que nem falei no Facebook? Tenho lá passado para ver grupos específicos e ver alguns eventos. O meu perfil pessoal anda moribundo e a página é praticamente alimentada pelo que vem do Instagram. É impossível acompanhar tudo. Gostava de ouvir podcasts, mas não consegui criar esse hábito. Acho que ando overwhelmed com opções.

Em terceiro lugar porque embora ame viajar e isso me tenha definido imenso como pessoa, queria escrever/falar sobre mais coisas.


E por último, por sentir que de algum modo, a minha opinião ou maneira de ver as coisas poderia não ser assim tão relevante para andar a aí a bradá-la aos sete ventos.


Isso, aliado ao facto ter muita dificuldade em lançar um artigo que ache que não tem a qualidade que deveria ter. Ao longo dos tempos fui escrevendo coisas e retendo em mim, a frustração de saber que poderia fazer melhor. E isso…consome-me bastante.

Eis que veio a quarentena!


Ora se a quarentena foi má para muita gente, para mim foi óptima. Fiz ramen quase todas as semanas.

Na primeira semana parecia meia parvalhona, com um super calendário de workshops, lives do Instagram que queria assistir, fotos que fiz…enfim…índice de productividade altíssimo. Ele foi pão, foi maquilhagem, foi exercício físico…uma canseira.


Fiz uma coisa que até acho que foi benéfica para algumas pessoas, que foi fazer stories no Instagram a partilhar dicas de trabalho remoto. Depois veio a fase de editar os vídeos que fiz na primeira semana.


Sim…adivinharam. Foi a segunda semana toda a editar vídeos. Alguns ainda nem partilhei alguns. Fiz um Ikigai para ver se me encontrava. Encontrei-me mais, mas não o suficiente. E um caril de couve que estava tão bom que vale a pena referir. O meu volume de trabalho também triplicou e o tempo livre começou a ser mais escasso.


Terceira semana fiz um talk sobre trabalho remoto com a IronHack e com o Movimento Transformers sobre o meu percurso. O Tiago fez anos e fizemos muitas receitas novas. Para não falar do super brunch que organizámos aqui em casa para nós e uns vizinhos que vivem no mesmo prédio. Temos feito quarentena conjunta com eles e é provavelmente das coisas que mais valorizei nesta quarentena. O facto de ter amigos que vivem no mesmo prédio que eu. Acho que também papámos muita NetFlix nesta semana. Casa de Papel foi num dia.


Na quarta semana…pintei o cabelo de cor-de-rosa. Sim. isso. Para compensar, fiz um site para quem procura trabalho remoto. Deu-me imenso trabalho, mas reuni tudo o que tinha nos marcadores do google chrome e fiz uma coisa que pode ajudar alguém. Se ajudar uma pessoa, já fico contente. Foi Páscoa e o Tiago parecia o Pablo Escobar porque tinha só bigode. Aconselho a ver este TikTok.


Na quinta semana, lancei o site e comecei a meditar. O desafio dos 21 dias. Já ouviram falar? Nisto, esqueci-me de dizer que comecei a praticar yoga quase diariamente e é uma coisa que me tem feito muito, muito bem. Uso a DownDog App.


Na sexta semana, o Ajitama enviou-me uma surpresa. Fizemos alho francês à brás, esparguete com soja e ervilhas com ovos. Foi das semanas mais vegetarianas e tenho muito orgulho nisso. Comprámos dois novos jogos de tabuleiro – uma expansão do Catan e o….Pandemic!

Na sétima semana, organizei um live com a temática “The Old, the New and The sustainable“. Uma edição Louletana com a Loulé Doce, uma pastelaria muito antiga, o Cafezique, um restaurante que acabou de abrir e a GreenVibe, uma loja online de produtos sustentáveis. Queria fazer uma edição de Cabo Verde, mas não tive oportunidade de procurar coisas e acabou por não acontecer. A de Lisboa ficou em standby porque me apercebi que quero fazer lives, mas noutro formato. A Loulé Doce mandou-me muuuuitoooos bolos. Comecei um curso do Coursera chamado Becoming a Changemaker – Introduction to Social Innovation. Fiz um cocktail com Palinka e na loucura, sendo intolerante a carne de porco, tomei um comprimido e comi Ribs. Ribs gostosas.


Na oitava semana trabalhei muito no início da semana e depois como acabou o estado de Emergência, saímos deste apartamento e fomos passar uns dias na Nazaré na casa dos pais do Tiago. Passeámos no campo, e apreciámos um pouco de natureza.


Na nona semana, fiz um live com o Gonçalo Hall sobre trabalho remoto e o meu percurso até chegar aí. Foi uma hora e meia de boa disposição e boa vibe.

Na décima e décima primeira semana estive no Bootcamp do Women4Climate porque o meu projecto foi um dos escolhidos, fiz um directo com a Ai de Mim, comi pizza e DEFENDI A TESE DE MESTRADO!! Para além disso acabei o desafio dos 21 dias de meditação. E…fui a Loulé ver a família! Semanas de muitas emoções!

Na décima segunda semana…organizei-me. Ou tentei.

Ainda estão aí??


Nos intervalos, pensei muito. Muito mesmo. Sobre o quê? Sobre o facto de gostar de muitas coisas e ter pouco tempo livre para me dedicar a todas. De ficar cheia de ansiedade por causa disso. Como resolver este problema? Arranjei um caderninho e todos os dias escrevia o que gosto e não gosto. O que me faz feliz e o que nem por isso. Depois de muito rabiscar, cheguei a algumas conclusões:

  • Todos os gurus das redes sociais e “internets”, dizem que temos de escolher um nicho e apostar forte e feio nisso. Quanto mais nicho melhor. Se for nicho do nicho, melhor ainda. Ora eu gosto de muita coisa e acho uma chatice viver a minha vida para uma única coisa. Lamento. Nunca vou passar dos 10k no Instagram por este andar. Ando sempre numa luta para manter o Swipe Up e parece que vai continuar a ser assim. Até o TikTok já percebeu isto e a minha conta não passa da cepa torta.

  • Por mais que tente viver num estilo Slow Living – ando a manter o Yoga quase todos os dias desde que comecei a quarentena e quero recomeçar a meditação – volto sempre ao activismo, imensidão de projectos, ideias e tento inventar mais horas do meu dia para mais coisas. Tenho de melhorar nisto porque de outra forma, a ansiedade vai voltar.

  • Como gosto de muitas coisas e não sou especializada em nenhuma, não há nada que possa ensinar profundamente a alguém. No entanto posso encaminhar boa informação e exaltar humanos com projectos incríveis. Isto porque chega a um momento na vida em que percebemos que às vezes as coisas não têm de ser sobre nós. O culto do “eu” nas redes sociais, faz com que achemos que também temos de ser mais e melhor. E sabem que mais? Não temos. Ser humilde também é bonito.

  • Coisas sobre as quais eu posso partilhar boa informação:
    • Trabalho remoto até sei umas coisinhas 🙂 Vou partilhando coisas giras e nomeadamente vagas
    • Projectos e acções sustentáveis
    • Viagens – Tudo o que ajude e apoie a comunidade local e atitudes sustentáveis
    • Boa paparoca – que isso toda a gente quer!
    • Boas iniciativas e educação para o impacto positivo no mundo
    • Coisas giras na música, arte e cultura.
    • O mais importante – Pessoas lindas que andam por aí.
  • Vou provavelmente ter mais erros, fazer posts mais pequenos e ser menos perfeccionista – mas por favor…avisem-me se virem alguma coisa mal. Lido bem com admitir erros 🙂
  • Afinal gosto de cozinhar – só não gostava da obrigação de fazer algo quando estava cansada. Ao estar em casa com o Tiago, foi mais tranquilo e adorei experimentar confecionar novas receitas 🙂


Vamos ver no que isto dá e se consigo manter a rotina 🙂

acrushon
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